Estresse tóxico precoce
Via de regra, o estresse pode ser definido como um conjunto de
respostas orgânicas do indivíduo para adaptação a novas situações
e experiências de vida. Contudo, essas reações orgânicas e
psíquicas podem provocar certo desequilíbrio em razão de
reiteração e intensidade desmedidas.
No caso específico das crianças, o tratamento negligente e
irresponsável destes estímulos pode causar certas alterações
negativas no desenvolvimento neurológico, fisiológico e social do
petiz. Traumas e crises que não são devidamente atendidas impactam
sobremaneira no sistema nervoso, refletindo na diminuição das
sinapses neurológicas cerebrais e no aprendizado. Trata-se, segundo
estudo da Universidade de Harvard, do chamado “estresse tóxico
precoce”.
Nesse sentido, colhe-se o seguinte ensinamento:
“O estresse é uma condição na qual o indivíduo vivencia
desafios ao bem-estar físico ou emocional que superam sua capacidade
de enfrentamento. Embora alguma experiência com tensões
gerenciáveis seja importante para o desenvolvimento saudável, o
estresse prolongado, ininterrupto e opressivo pode ter efeitos
tóxicos. Frequentemente, esse tipo de estresse tóxico está
associado a abuso e negligência na infância.
Durante seu rápido desenvolvimento ao longo dos primeiros anos de
vida, o cérebro é particularmente sensível a influências
ambientais. O estresse tóxico precoce (ETP) pode provocar
hipersensibilidade persistente aos fatores estressantes, e
sensibilização dos circuitos neurais e outros sistemas de
neurotransmissores que processam informações de ameaças. Essas
sequelas neurobiológicas do ETP podem favorecer o desenvolvimento de
problemas comportamentais e emocionais de curto e longo prazos, que
podem persistir na vida adulta, aumentando o risco de psicopatologias
e distúrbios de saúde física.” (Estresse e desenvolvimento
inicial do cérebro. Megan R. Gunnar, PhD, Adriana Herrera, MA,
Camelia E. Hostinar, BS University of Minnesota, EUA).
A importância deste tema na seara trabalhista está intrinsecamente
ligado ao debate sobre o trabalho infantil. Lidar com fatores
estressores advindos do trabalho, antes das idades recomendadas nas
normativas nacionais e internacionais a respeito, resulta em nítida
violência ao desenvolvimento saudável da criança. O trabalho
infantil é uma mazela que implica neste estresse tóxico, devendo
ser extirpado pela sociedade.
Por conta disso, a doutrina da proteção integral instituiu um
complexo conjunto de direitos e uma ampla garantia de proteção à
criança e ao adolescente, conferindo prioridade absoluta na
efetivação de uma cidadania plena e na implantação de políticas
de combate à exploração infantil.
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