O prédio (paródia)
A composição a seguir apresentada é uma paródia crítica do célebre poema “A casa”, de Vinícius de Moraes, em que houve a substituição do aspecto lúdico da canção original por uma denúncia direta sobre as precariedades de algumas relações de trabalho atuais. Utilizando-se de uma linguagem simples e com rimas, o texto revisita a forma poética infantil para transmitir uma mensagem contundente: a crítica à chamada “pejotização irrestrita do trabalho” e à consequente perda de direitos trabalhistas mínimos.
A construção “engraçada”, que antes causava risos por sua incongruência arquitetônica, agora se torna símbolo de um abuso estrutural do trabalho autônomo que, embora revestido de uma pseudoformalidade, escancara sua ausência de dignidade e garantias mínimas. Trata-se, pois, de uma crítica à lógica da pejotização desenfreada como forma de subverter e fraudar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), diluindo obrigações patronais e individualizando os riscos da atividade econômica, transferindo-os inteiramente ao trabalhador travestido de empresa.
Assim, a paródia se torna um instrumento pedagógico e de crítica social ao revelar a dicotomia entre a segurança jurídica do vínculo empregatício, que assegura direitos constitucionais fundamentais, e a fragilidade da pejotização, muitas vezes utilizada como estratégia de redução de custos em detrimento do trabalho decente, causando esvaziamento da proteção social.
Eis a íntegra da paródia:
O prédio
Era um prédio muito engraçado
Não tinha emprego, era tudo pejotizado
Ninguém tinha garantias nele não
Porque no prédio não tinha cidadão
Ninguém podia descansar ou ter sede
Porque no prédio não tinha água ou rede
Ninguém podia fazer xixi
Porque saúde e segurança não tinha ali
Mas era feito com muito dinheiro
Na rua dos couros, direito zero.
(Por Wagson Lindolfo José Filho)
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Nota de autoria
Texto de autoria de Wagson Lindolfo José Filho.
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